segunda-feira, 19 de fevereiro de 2018

Depressão e suicídio no meio cristão: doença física ou espiritual?

O ensaio fotográfico “Intimidade Depressiva” foi a forma que o psicólogo Douglas Amorim, de Cuiabá (MT), encontrou para chamar a atenção para o tema das doenças mentais e do suicídio.




Depressão e suicídio no meio cristão: doença física ou espiritual?


Um sofredor depressivo assim descreveu seus momentos de profunda angústia. “É como se você estivesse tentando andar numa rua encharcada de lama, com uma forte chuva caindo. Você olha para o chão e vê que seus pés ficam cada vez mais pesados, com uma grossa camada de lama, dificultando cada passo. Você olha para o céu e somente vê uma chuva sem trégua. Para onde você olha, não enxerga a luz do sol, apenas as nuvens pesadas de uma tempestade que não passa. Você pensa que o melhor é parar de caminhar e apenas ficar ali parado. Seus pés são pesados demais. A chuva é insistente demais… é assim que me sinto, mesmo estando num dia de sol forte sem nenhuma nuvem no céu”.

Entender um estado depressivo como esse acima, pra quem nunca o sentiu, é algo muito difícil. Tentativas de ajuda, mesmo com boa intenção, sem um toque de delicadeza com empatia, vai engrossar ainda mais as camadas de lama nos calçados do sofredor depressivo. Compreender essa doença pode ajudar muito a entender os comportamentos daqueles que estão envoltos por nuvens cinzas de desesperança. Sim, precisamos entender, para melhor ajudar.

Três distintos acontecimentos incendiaram esse tema nas redes sociais em 2017. O jogo “Baleia Azul” (que ainda está sob investigação) que envolveu principalmente jovens deprimidos a entrarem numa série de desafios, que incluíam automutilação e culminava em cometer suicídio. A série “13 reasons why” (os 13 porquês) que conta a história de Hannah Baker, uma jovem estudante que narra uma sequência de bullying que sofreu em sua escola, gravando 13 fitas k7 explicando os 13 motivos que a levou a cometer o suicídio. E, por fim, a campanha do “#SetembroAmarelo”, desenvolvida pelo CVV (Centro de Valorização à Vida) que utilizou o slogan Falar é a melhor solução promovendo a conscientização sobre a prevenção ao suicídio.

Uma pesquisa realizada pelo Facebook mostrou que as publicações e comentários quando ocorreu a divulgação do jogo “Baleia Azul” ainda eram realizados com sarcasmos e brincadeiras. Quando a série da Netflix popularizou, a pesquisa mostrou uma mudança nos tipos de comentários e postagens. O CVV, inclusive, divulgou que houve um aumento em 400% nos atendimentos, em sua maioria, jovens que ligavam pedindo ajuda por estarem sofrendo as mesmas coisas que a protagonista de 13 Reasons Why. No mês da campanha do Setembro Amarelo, as postagens já evidenciaram uma motivação maior na tentativa de ajudar e/ou divulgar a campanha.

Embora o entendimento do tema tenha tido avanços nas redes sociais, observamos, ainda, alguns preconceitos no meio cristão. Alguns estereótipos continuaram sendo publicados: Depressão é falta de Deus, falta de fé, falta de oração; depressão é coisa do diabo; é sinal que nunca teve um encontro com Deus; quem tem depressão fica assim porque quer; se quiser, pode sair dessa… essas e outras postagens e comentários evidenciam o quanto a depressão e suicídio continuam longe do entendimento entre o povo de Deus.

O ano que poderia ser um marco na quebra de tabu do debate acerca da depressão, finalizou marcado pelo suicídio de cinco pastores que tinham suspeitas de depressão. Precisamos, enquanto igreja do Senhor, rogar ao Espírito Santo para que nossa mente se abra para um entendimento livre de preconceitos sobre essa doença.


Por isso, o objetivo dessas poucas palavras aqui é oferecer algo como uma ferramenta. Nem de longe imaginamos sermos capazes de oferecer um conceito completo de depressão ou de oferecer cura ao deprimido. Aos cansados e sobrecarregados, o Senhor Jesus ofereceu alívio (Mt 11.28). Acredito que se nos submetermos à sensibilidade do Santo Espírito, podemos oferecer essa ferramenta aqui como algo que pode conceder alívio ao abatido de espírito. Pode também, ajudar alguns humildes servos do Senhor que sentem o desejo ardendo em sua alma de ajudar um sofredor depressivo.



O que é depressão?



Depressão é uma doença da mente que leva o sofredor deprimido a um estado de tristeza profunda, dores na alma, irritabilidade, preocupações, medo, desencanto, desesperança, autoestima baixa e auto culpabilidade. É acompanhada com distúrbios do sono e falta/aumento de apetite. É uma doença difícil de entender para quem nunca teve. Um tanto inexplicável e incompreensível. Parece que o deprimido está esgotado e sem forças para reagir.


A Associação Brasileira de Psiquiatria define a depressão como uma síndrome cujas reações no corpo são muito mais complexas que a aparente melancolia. É como se a mente pregasse uma peça contra o próprio corpo. Ocorre uma diminuição nas atividades de transmissão de informações entre os neurônios. Alguns neurotransmissores, como a SEROTONINA, ficam deficientes. Importante lembrar que é a serotonina que regula o sono, humor, apetite e ainda ajuda a combater a enxaqueca. Há também alterações hormonais. Diminuição de substâncias protetoras dos neurônios, podendo acarretar morte de células cerebrais. Ocorre ainda, uma produção excessiva de CORTISOL pelo hipotálamo, conhecido como hormônio do estresse. Essa alteração ajuda a baixar imunidade do organismo e aumentar os fatores inflamatórios. Por isso, os sofredores depressivos têm maiores chances de adoecer do que aqueles que não sofrem da doença.


Talvez a depressão seja melhor definida por quem já teve. A seguir, uma sequência real de pessoas que já lidaram ou lidam com essa doença:

"Acho que a depressão não é algo como só tristeza. Ou só querer ficar só, sabe? Acho que é como se a pessoa sentisse cada coisa ainda mais forte (o que as pessoas acabam chamando de drama). Ela não consegue se expressar muito bem, e isso acaba gerando um julgamento alheio, ou até de pessoas que ela pensou que poderia ajudá-la. Aí a gente acaba se afastando, porque foi julgado, ficando com a cabeça confusa com cada coisa que vai acontecendo e aparecendo, tirando um pouco de seu ânimo. Mesmo assim, colocando sorriso, saindo, estudando, trabalhando, fazendo coisas normais. Mesmo muitas vezes não se sentindo assim. Depressivo não é uma pessoa que não sai de casa, que vive chorando e tal (apesar de ter visto pessoas assim), é algo mais forte, mais profundo e doloroso, do que quem está de fora possa saber."

"Depressão é uma coisa que deixa de ter forças para comer, para sair de casa, para falar com as pessoas de novo."

"A depressão pra mim, é como você está num lugar cheio de pessoas e mesmo assim sentir sozinho. É como estar sorrindo e por dentro se acabando de chorar, é como se tivesse algo perturbador dentro de você e você não consegue ficar um dia sequer sem pensar em suicídio. E você sabe que precisa desabafar, mas não consegue botar pra fora o que sente. E também não encontra ninguém que possa confiar. E quando a noite chega, você fica no escuro sozinho se acabando de chorar e ninguém escuta seu choro."

"Aquela sensação de simplesmente não ter para onde ir."

"A cama te atrai como um imã, você passa o dia todo sobre ela mas não consegue se sentir bem nesse lugar."

"Incerteza sobre a própria identidade."

"Tantas coisas passam dentro de você e você não consegue colocar pra fora."

"É como se algo te puxasse para baixo."

"Tudo que você queria era que de alguma forma tudo se resolvesse."

"Você se sente vazio de você mesmo."

"Como algo que te consome."

"Passa tanta coisa na sua cabeça que ninguém pode imaginar, fazendo você se sentir exausto sem sair do lugar."

"Fica perdido."

"Alguma coisa te impede de fazer o que você realmente deseja fazer."

"As horas não passam e você não se suporta."

Muitos depressivos passam a pensar na morte como solução (o que não é verdade)


Buscando entendimento sobre a depressão para melhor compreender um depressivo





Circunstâncias que levam à depressão


Imagine uma faísca que foi jogada de um carro em alta velocidade. Se a faísca cair num lugar de sequidão ou lugar de mananciais, vai fazer muita diferença. A pequena faísca pode não acarretar nenhum prejuízo aos pastos verdejantes. Porém, a mesma pequena faísca pode desencadear uma catástrofe ambiental se cair em lugares de sequidão. A faísca é a mesma, o que difere é onde ela cai. Assim ocorre conosco. A faísca representa as circunstâncias difíceis da vida. São aflições que, inevitavelmente, ocorrerão com aqueles que resolvem trilhar no caminho apertado Senhor.

Uma mesma situação envolvendo um grupo de pessoas pode provocar reações distintas. A mesma faísca de aflição irá acarretar uma reação de bravura e fortaleza em alguns, enquanto que outros irão ficar terrivelmente abalados e entorpecidos. Uma coisa é certa, uma vez ou outra a faísca será arremessada, pois para todos sempre haverá um tempo de chorar (Ec 3.8).

A faísca desencadeadora de catástrofes na alma poderá vir de várias formas:

  • traição de um cônjuge
  • negligência de um considerado amigo
  • problema incomum na família
  • doença ou morte de alguém que amamos
  • questões financeiras, como perda de emprego, falência de um sonhado negócio ou empreendimento, pobreza em relações às necessidades básicas
  • sonhos frustrados, objetivos bloqueados, tentativas fracassadas, inimigos vitoriosos
  • remorsos, sofrimentos causados aos outros, pecados contra Deus

Essas e tantas outras coisas que podem ser arremessadas contra um humilde servo do Senhor irrompendo num incêndio na alma com proporções inimagináveis.

Uma mesma faísca pode também continuar acesa por muito tempo. É quando a lembrança daquele momento traumático faz com que o solo de nossa alma se torne sequidão, provocando o mesmo incêndio que naquele dia. Ou até maior. O pobre depressivo se esforça para pensar em outra coisa. Se distrai por um tempo. E sem perceber, a lembrança volta. A própria memória do depressivo pode ser a faísca desencadeadora de desastres.

Misteriosamente, poderá não haver causa definida. Um depressivo poderá buscar um bom motivo que o levou às raízes prendedora do quarto e não encontra nada. São alguns que não possuem uma circunstância “real” e mesmo assim ele se sente com a pior das tristezas no peito. A vida está boa. A filha nasceu com saúde. As contas estão sendo pagas em dia. A casa continua bela como no dia que comprou. O casamento vai bem, obrigado… e mesmo assim, o sentimento de dor vem como se tivesse vontade própria. Involuntariamente vem e domina. E o dia de alegria vira dia de tristeza.

Sobre circunstâncias que levam à depressão, vamos observar três pontos importantes:


  • Além da aparência física visível do corpo, o ser humano possui alma (1Ts 5.23; Hb 4.12) e ambos podem ficar feridos. Uma mesma circunstância provocará diferentes níveis de feridas externas ou internas.

  • A depressão é uma doença da mente e não é, por si só, um pecado contra Deus. Repito, estar com depressão não é necessariamente estar em pecado. Como uma marca de nascença, uma pessoa pode nascer propensa a desencadear uma depressão em qualquer momento de sua vida.

  • A depressão não é tão incomum no meio cristão e nem exclusivamente sua. Bons humildes servos do Senhor como Martinho Lutero, o destemível reformador, e Charles Spurgeon, o príncipe dos pregadores, foram acometidos por fortes depressões da mente ao longo de suas vidas. Outros servos do Senhor da narrativa bíblica também sofreram de depressão, como Jó, Davi, Elias e o próprio Senhor Jesus (falaremos mais adiante sobre cada um).


Repare na faísca que incendiou e consumiu a alma de Jó.


Primeiro, ele perdeu bens materiais e permaneceu firme. Aqui ele já estava falido. Suas finanças geradas de anos de árduo trabalho foram consumidas. Dois grupos de diferentes inimigos roubaram boa parte do que ele tinha. E o que sobrou, a própria natureza consumiu. Jó permaneceu intacto!

Segundo, Jó perdeu todos os seus filhos num mesmo dia. Sete filhos e três filhas de uma vez só. Algo impensável. E Jó adora ao Senhor.

Terceiro, ele testifica sua esposa se distanciando de Deus. Ela pragueja e deseja a morte de Jó. Um casamento que se acaba ali. E nosso herói permanece inabalável.

Por último, Jó perde sua saúde. Diante das perdas anteriores, essa não parece ser a faísca da depressão dele, mas foi. Jó entra num estado de luto permanente. Durante sete dias e sete noites Jó não consegue dizer nem uma única palavra. As dores no seu corpo fizeram sua alma adoecer.


Falência financeira, perda de um ente querido, separação conjugal ou doença física, qualquer um desses males pode ser uma faísca que irá desencadear uma depressão. Não é que uma pode ser mais terrível que a outra. É a interpretação interna que fazemos delas que pode ser a diferença.

Talvez a primeira perda de Jó pode abater um honesto Servo do Senhor. Ou a segunda irá levar o dedicado pai de família a um estado permanente de luto. A terceira poderá fazer um descuidado romântico depender de medicação devido a perda da mulher amada. Outros, como foi Jó, irão ficar debilitados mentalmente ao verem seu corpo se deteriorar. Seja qual for a faísca, não podemos colocá-la na fria balança do julgamento. Não há como se medir seu peso. Pensemos nisso. Que o Santo Consolador nos ajude nisso, pois Deus não ri de nossa depressão. Deus sabia qual era a faísca de Jó, por isso a deixou por último. A história de Jó não termina com a faísca que consumiu sua alma. Isso acontece apenas nos dois primeiros capítulos de sua história. Ainda haveria outros 40! A história de um humilde servo do Senhor não termina nas profundezas da depressão, ainda há muitos capítulos adiante.



Sofredores de depressão na Bíblia



A Depressão de Jó



Conhecemos seu estado depressivo quando “abriu Jó a boca” (Jó 3.1). Depois da faísca ter desencadeado seu desmoronamento interno, Jó ficou sete dias e sete noites sem dizer nenhuma palavra, pois a dor era muito grande (2.13). Seu prolongado silêncio foi finalmente interrompido. Nesse momento, não teve adoração. Ele lamentou o dia em que nasceu.

Pereça o dia em que nasci. Seu desabafo é rico em detalhes. Ele deseja que o dia de seu nascimento seja convertido em trevas. Que não houvesse música naquela noite. Que as estrelas se escureçam. E que a alva não tenha luz. Ele lamenta e deseja ter morrido já no ventre de sua mãe.


Ele questiona por que se dá vida aos amargurados de ânimo que esperam a morte, e ela não vem. Em seus pensamentos, ele cava a procura dela mais do que tesouros ocultos. Ele imagina que, achando sua sepultura, ele saltaria de alegria e exultação.

Repare que o pobre servo do Senhor em sua agonia, deseja já ter nascido morto, como um aborto oculto

Em seu novo questionamento, ele indaga o porquê se dá luz ao homema quem Deus o encobriu. Parece que o pobre sofredor se sente encoberto, longe dos olhos de socorro de Deus.

Ele descreve seu pesar interno dizendo que antes do meu pão vem o suspiro. Seus gemidos se derramam como água.

E o capítulo de seu primeiro desabafo vai se finalizando com o pobre sofredor explicando que o que ele mais temia lhe veio. O que ele mais receava lhe aconteceu. A faísca atingiu seu ponto fraco. Ele se lembra que sempre foi um homem forte, que muito trabalhou, mas veio sobre mim a perturbação.


Buscando entendimento da descrição inicial de Jó

Devemos olhar para esse profundo desabafo com um sentimento de empatia. Precisamos buscar no Espírito uma capacidade afetiva para entender a dor alheia. Faltou isso nos amigos de Jó. Após seu desabafo, aqueles que poderiam ajudar acabaram por piorar ainda mais a situação. Ficar pior é a última coisa que um depressivo precisa. Por isso, vejamos algumas considerações sobre o desabafo de Jó:


1- No fundo, por mais profunda que seja a depressão, o sofredor deseja por alívio.


O único alívio que Jó imagina para solução de suas perturbações internas é já ter nascido sem vida. Antes de julgarmos essa opção que Jó desabafa, precisamos primeiro levar em consideração que Jó deseja alívio para suas dores. Tão somente isso. Num dos relatos dos casos depressivos que citamos, vemos que uma jovem diz ter pegado uma faca para se cortar desejando aliviar sua dor. Não entre agora no quesito do certo ou errado. Antes, precisamos entender por agora que um depressivo deseja alívio. Partindo daí, já teremos uma vasta gama de ferramentas para ajuda.


2- O desabafo não é pecado

Jó conseguiu descrever em palavras uma avalanche de perturbações internas. Ele gritou. Abriu a boca. É tudo que um sofredor depressivo precisa inicialmente.

Aqui os seus amigos acertaram. Eles se compadecem e também ficam os sete dias ao lado de Jó sem pronunciar uma única palavra. Esperaram o grito do amigo sofredor. É difícil ajudar o depressivo antes dele gritar pela ajuda. Os humildes servos do Senhor que realmente desejam ajudar alguém também devem esperar pelo pedido de ajuda. Devem orar ao Senhor para que o Santo Espírito impulsione o sofredor a abrir a boca, como fez Jó. Quando isso ocorrer, precisamos estar preparados para ouvir de tudo. Nesse importante momento de desabafo, a fria balança dos julgamentos deve ficar de fora.


3- Jó deseja um lugar onde não exista dor

Nesse primeiro desabafo, Jó deixa transparecer o motivo desse seu lamento. Ele imagina um lugar onde sua alma estaria se, ao nascer, nunca tivesse visto a luz. Então ele chama esse lugar de ali. Veja:

Ali, os maus cessam de perturbar; e, ali, repousam os cansados.
Ali, os presos juntamente repousam e não ouvem a voz do exator.
Ali, está o pequeno e o grande, e o servo fica livre de seu senhor.
Em sua dor interna, o pobre homem deseja um lugar onde os maus não perturbem. Suas aflições já são terríveis demais para serem ainda acrescentados comentários maldosos ou até mesmo cheios de boa vontade, mas trazem dor sobre dor.

As vezes, o depressivo evita falar com as pessoas porque teme ouvir as mesmas frases de sempre que o deixam pior: sai dessa, pare com isso, tem gente pior que você… e ainda outras ainda mais perturbadoras, como: é falta de oração, é falta de fé, é falta de um encontro real com Deus, é algum pecado escondido... Se lermos os “bons” conselhos dos amigos de Jó, veremos que foi exatamente essas coisas que falaram para o pobre deprimido. Nada disso ajudou Jó, nada disso ajuda o pobre depressivo. Apenas piora muito.

Jó deseja ainda um lugar onde há repouso ao cansados. Lembre-se que ele estava há sete dias sem reagir, parado, calado… e mesmo assim, terrivelmente cansado. A depressão causa essa sensação de cansaço. O sofredor fica num estado frequente de cansaço. Mesmo em repouso, ele quer repousar.

O lugar que Jó anseia é onde não se ouve a voz do exator. Sem pesadas cobranças. Tudo o que ele não quer é ser exigido. Um depressivo tem sua autoestima cavada a fundo. Exigir que ele simplesmente “pare com isso” soa como a voz opressora de um exator.

E, por último, Jó deseja um lugar onde os pequenos e grandes sejam iguais. O depressivo se sente pequeno, diminuído. E os outros são melhores que ele, são grandes. No fundo, ele deseja ser tão bom quanto, fazer direito, mas não encontra nele força para isso.


4- O lugar que Jó tanto desejou é tão real como essa parede ao seu lado

Se assim o Senhor te trouxe até aqui, oh meu amigo sofredor, e você tanto se identificou com o desabafo de Jó, e no fundo, você também deseja um fim para sua dor, um lugar onde as coisas sejam diferentes, eu quero lhe dizer que esse lugar existe. É real. É acessível.

O Senhor Jesus disse Vinde a mim todos os que estão cansados e sobrecarregados e eu vos aliviarei. Oh quão amigo e compreensivo é este Senhor. Ele é esse lugar. O lugar que Jó tanto desejou.

As palavras desse Bom Pastor não geram perturbações, pelo contrário, geram vida. Olhe o convite e veja que Ele não chama os bons demais, os sarados e tratados, e nem os que sempre acertam. Seu convite é para os que estão cansados. É para os que já não suportam mais olhar para si e não vê força alguma. Oh alma cansada, escute esse Bondoso Senhor que o chama para si. Sua promessa também não é irreal, como de tantos amigos de Jó. Não algo do tipo: vai orar que passa, vai capinar, vai para igreja… A promessa desse Senhor Realista é eu vos aliviarei. Alívio, tão somente. Não há mágica. Não é um deletar de memórias ruins. Não é nada disso, o Senhor promete aliviar essa dor que você sente. Jó chegou a imaginar que morrendo, sua dor seria aliviada. Esse tão bondoso Senhor, morreu então por ti, e pode lhe oferecer esse tão desejado alívio.

Não estou dizendo que o depressivo está longe de Deus, como sugeriu os amigos de Jó. Talvez, o que o sofredor depressivo ainda não conheça é que esse Deus continua o amando imensamente mesmo nos momentos de lamento e desesperança. Por mais funda que seja a depressão, a Graça é ainda mais profunda.


5- Deus não o encobriu

Em seu desabafo, Jó mencionou que Deus o encobriu. Sensação recorrente do depressivo, que se sente tão ingrato. É como se Deus estivesse decepcionado com ele. A dor se mistura com a vergonha. O depressivo se sente tão longe de Deus.

O pobre sofredor precisa ouvir que Deus não está longe dele. Ora, sua depressão é apenas uma doença que Deus quer tratar. Como uma mãe que olha com ternura e compaixão envolvendo em seus braços o seu filho doente, assim Deus quer cuidar do depressivo.


2. A depressão de Elias



“...e deixou ali o seu moço. E ele se foi ao deserto, caminho de um dia, e veio, e se assentou debaixo de um zimbro; e pediu em seu ânimo a morte a Deus e disse: Já basta, ó Senhor; toma agora minha vida pois não sou melhor que meus pais (1Rs 19.3-4)”

A depressão de Elias quebra o preconceito de que falta um verdadeiro encontro com Deus para um cristão depressivo. No Carmelo, Elias teve um verdadeiro e demonstrável encontro com Deus e foi parar debaixo de um pé de Zimbro enraizado pela depressão. É certo que a experiência na caverna também foi um real encontro com Deus. Mas, quando essa frase é lançada aos ouvidos do depressivo, lhe causam perturbações como causaram as falas de Jezabel.


1- Elias preferiu ficar só

Diferente de Jó que mergulhou na depressão acompanhado de amigos, Elias preferiu ficar só. Deixou seu moço em Berseba e se foi para o deserto. Um dia inteiro caminhando meio que sem rumo, parando, esgotado, debaixo de um zimbro e longe de todos. Foi nesse momento que Elias se abriu.


2- O desabafo de Elias

Jó externou depois de sete dias, Elias, depois de apenas um. Repare que a depressão causa reações diferentes nas pessoas. A declaração de Elias é parecida com a de Jó. A diferença é que o profeta do Carmelo foi mais simples, enquanto que Jó foi detalhista e poético. Mas em ambos, há o desejo de não viver mais.

Se queremos que um depressivo realmente abra a boca e externalize o que está oculto na sua alma ferida, devemos estar preparados para ouvir coisas desse tipo.


3- O anjo do socorro

Um anjo enviado por Deus veio ao socorro de Elias, lhe servindo pão recém assado e água fresca. Deus ainda deseja enviar anjos ao socorro de pessoas que sofrem em depressão. Seja você, esse anjo que Deus ainda deseja enviar para alívio dos aflitos.

O que posso oferecer a um abatido de alma, pode perguntar alguns. Ora, veja que o anjo do socorro de Elias ofereceu pão e água. Parece simples, e é simples mesmo. Mas não era qualquer pão, estava ainda sobre as brasas. Cheiro de pão recém assado é muito bom. Também não era qualquer água. Era uma botija de água. Parece que o profeta gostava dessa combinação. Há dois capítulos atrás de sua história, é exatamente pão e água que ele pede à viúva de Serepta.

O simples fato de querer oferecer algo ao mentalmente abatido já é notório. E não queira oferecer coisas irreais. Ofereça o que o deprimido gosta. Caminhe com ele, se assim ele gostar de caminhar. Pesque com ele, se assim ele gostar de pescar. Converse com ele, se assim ele gostar de conversar. Assista televisão com ele, se assim ele gostar de tv.

Veja esse depoimento real de uma jovem que nos autorizou a transcrever aquele que, segundo ela, foi o pior ataque que já viveu:

“Mais um dia amanheceu e com muita luta me levantei. Minha vontade todos os dias era permanecer deitada, a insônia durante toda a noite me fazia desejar que as manhãs não existissem, a vontade de ficar deitada e não vê ninguém era constante.
Até que a tarde o peito apertou e o ar parece que sumiu. Como é difícil respirar, me sentei no sofá e por 3 vezes tentei me levantar para continuar o que estava fazendo. Mas parece que o mundo inteiro estava sob minhas pernas, que peso insuportável, que angústia, que vontade de respirar.
Comecei a me morder pra vê se a dor no corpo aliviava a dor no peito. Mas não passava, a dor aumentava. Fui na cozinha tentei me cortar com 3 facas diferentes (que livramento) nenhuma cortou. Apenas as marcas das mordidas ficaram. Eu precisava de ajuda naquele momento, mais quem? Uma mensagem pelo Whatsapp enviei, pedi socorro a um casal de anjo em forma de gente que Deus manda pra ajudar a gente. Resposta imediata estou indo ai não faça nada!. Ajuda chegou! Com as pernas trêmulas, coração acelerado, o ar faltando, abracei aquele abraço amigo e desabei em prantos. Só conseguia falar: Eu só quero que a dor acabe!.
Fui caminhar naquele dia com ajuda amiga, conversamos, o peito aliviou a dor passou o peso foi indo embora.”


4- Tenha paciência

E tenha paciência. Não exija resultados rápidos. Elias comeu, e bebeu, e tornou a deitar-se. Mesmo você tendo oferecido ajuda ao deprimido, ele pode voltar ao mesmo estado de antes. O zimbro foi para Elias, o que um quarto é para alguns deprimidos de hoje.

E tenha paciência, oh amigo deprimido! O grande profeta Elias, foi ajudado e voltou ao mesmo estado de antes. Não se culpe por você não conseguir reagir, mesmo tendo já sido ajudado um vez.

Na verdade, Elias teve que ser ajudado uma segunda vez pelo anjo. Mesmo alimento, mesmo anjo. Ele até que esboça uma reação. Consegue sair do zimbro. Mas foi parar no fundo de uma caverna. Mesmo com ajuda de um anjo. Mesmo com a refeição predileta. Parece que o estado dele piorou.


5- Elias na caverna da desesperança

Os humildes servos do Senhor que são tocados pelo Espírito para ajudar um deprimido devem ter paciência. Pois Deus teve paciência com Elias. Deus tem paciência com os sofredores deprimidos. Elias foi para o fundo da caverna. E na caverna, olhamos para um lado e outro e não vemos saída, somos impulsionados a irmos mais fundo nela, indo em labirintos onde não se sabe o fim. Na vida, quando estamos na caverna, somos atraídos a experimentar o fim da caverna, andando na escuridão, em labirintos e perigos.

Na caverna, Elias não foi visitado por um anjo. Não recebeu seu alimento preferido. Ali, o próprio Deus foi ao seu encontro.

Ali, Elias passou uma noite inteira sem falar nada. O próprio Deus que provocou o desabafo de Elias. Jó abriu a boca depois de sete dias. Elias, depois de uma noite. Tempos diferentes, mas devemos clamar a esse Deus de Elias para que Ele ajude pessoas mentalmente abatidas a se abrirem e botar para fora suas dores.

Deus escuta o desabafo de Elias e o orienta a ir para o cume do Monte. E Elias não se mexe. Vem um vento, um terremoto e um fogo. E depois, uma voz mansa e delicada.

Olhe atentamente para essa cena, seja você um ajudador ou um sofredor, e não exija reações rápidas do depressivo. Ajudador não deve gritar, exigir, argumentar… veja Deus falando uma segunda vez com uma voz mansa e delicada. Isso depois de ter enviado um anjo de socorro por duas vezes.

Elias ouviu essa voz, e teve a reação de sair da caverna. Oh que voz poderosa e suave. Forte e delicada. Voz que tira profetas do fundo da caverna e que é sussurrada no fundo da alma. Oro ao Senhor, que todo deprimido escute essa voz que é sussurrada, mansa e delicadamente, nas profundezas da alma, mesmo o deprimido estando no fundo da caverna da desesperança.


6- Elias frente a frente com Deus

Elias sai da caverna, mas não mostra seu rosto, pois o deprimido tem vergonha de Deus. Os amigos de Jó podem assemelhar essa vergonha com a mesma de Adão no Éden. Mas são diferentes. A de Adão é fruto do pecado. A de Elias, da depressão interna. Depressão não é pecado! Em sua vergonha, Adão foi castigado. Em sua vergonha, Elias foi cuidado.

Elias sai da caverna, mas não vai para o cume do monte não. Não é caso de desobediência. É falta de força mesmo. Elias sai e fica à entrada da caverna. Foram poucos passos, mas muito significativos. Deus acompanha os passos daqueles que saem da caverna com a mesma atenção de um pai nos primeiros passos de seu filho. Já nos primeiros passos, Deus repete a pergunta motivadora que faz Elias desabafar.

Mesmo fora da caverna, Elias repete o mesmo desabafo de quando estava dentro dela:

Elias dentro da caverna:

Tenho sido muito zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei, e buscam a minha vida para ma tirarem. (1 Reis 19:10)

Elias fora da caverna:

Eu tenho sido em extremo zeloso pelo Senhor Deus dos Exércitos, porque os filhos de Israel deixaram a tua aliança, derrubaram os teus altares, e mataram os teus profetas à espada, e só eu fiquei; e buscam a minha vida para ma tirarem.(1 Reis 19:14)

Mesmo saindo de uma situação de caverna, veja que os motivos continuam e ainda precisam de nossa atenção e cuidado. E Deus vai exatamente cuidar da causa da depressão de Elias.

Se a origem da depressão de Elias eram as perseguições do ímpio rei Acabe e de sua esposa Jezabel, Deus manda Elias ungir Jeú como novo rei de Israel.

Se Elias sente que está só, Deus o manda ungir Eliseu para estar em seu lugar. Não veja essa frase como uma substituição. Veja como uma continuação profética. Onde Elias fosse, Eliseu também estaria em seu lugar, junto, acompanhando para que, mais a frente, desse continuidade ao seu ministério profético.

E, por último, se a dor de Elias é causada por achar que todos os profetas foram mortos pelas mãos de Jezabel, Deus deixa claro que fez ficar em Israel sete mil valorosos profetas que não se dobraram a Baal.



3- A depressão de Hemã no Salmo 88



O Salmo 88 é considerado pela maioria dos comentaristas como o mais pungente de todos. Diferente dos demais, esse Salmo não termina com uma palavra de esperança. Ainda assim, é muito útil para uma simples e poderosa ferramenta de ajuda para o depressivo. O salmista descreve sua dor. Ele não menciona a origem ou circunstância que desencadeou toda aflição descrita, apenas descreve as várias sensações que suas dores internas provocam.

Que você, ajudador levantado pelo Senhor para ajudar, possa incentivar o depressivo a descrever sua depressão. Colocar em palavras aquilo que está na alma. Com paciência e empatia, incentive-o a externar suas emoções. Não se escandalize pelas descrições que você vai ouvir, que podem ser poéticas, como as de Jó, podem ser simples e rápidas, como as de Elias, ou podem não ter esperança, como essa do Salmo 88.

Morte

O salmista descreve sua dor interna dizendo que sua alma está cheia de angústias. Sente que sua vida se aproxima da sepultura e que já é contado com os que descem à cova. Assemelha-se ao homem sem forças, posto entre os mortos e como os feridos de morte que jazem na sepultura.

Deus

O salmista sente que foi esquecido e excluído da mão de Deus. Sente que Deus o colocou no mais profundo do abismo, em trevas e nas profundezas. Sua sensação é que Deus pesou sua cólera sobre ele, e o abateu com todas as suas ondas. Sente ainda que foi o Senhor que afastou seus conhecidos, fazendo desse infeliz um extremo abominável para eles.

Oração

Todo seu desabafo é uma oração. Veja que este depressivo está descrevendo sua angústia através de uma triste oração. Inicia o salmo dizendo tenho clamado de dia e de noite. E continua clamando tenho clamado a ti, tenho estendido para ti as minhas mãos… clamo a ti de madrugada.

Dor

Ele descreve sua dor como se ele estivesse perecendo, aflito e preste a morrer.. Sua alma está cheia de angústia. Sua dor faz com que ele esteja fechado e não posso sair.

Amigos

Ele se sente só e isso é colocado no desabafo. Parece que ele queria companhia amiga. Seus amigos e companheiros foram afastados para longe e até mesmo seus íntimos amigos agora são trevas.



Aprendendo a descrever a dor interna

Além do triste Salmo 88, toda a palavra está recheada de situações onde pessoas descrevem suas fragilizadas emoções internas. Eles descrevem orações, lamentos, cânticos, mas todos descrevem para Deus. Vemos, nessas situações, um Deus que é um bom ouvinte e que nos ensina a descrevermos nossas angústias, colocando para fora, aquilo que atormenta o coração.

Não me arraste a corrente das águas, nem me traga a voragem, nem se feche sobre mim a boca do poço. (Sl 69.15)

Antes, como ministros de Deus, tornando-nos recomendáveis em tudo; na muita paciência, nas aflições, nas necessidades, nas angústias. Como contristados, mas sempre alegres; como pobres, mas enriquecendo a muitos; como nada tendo, e possuindo tudo. (2 Co 6.4,10)

“A Folha Frágil” (Jó 13.25), “O Espírito Abatido” (Pv 18.14), “A Alma Abatida” (Sl 42.6), “A Cana Quebrada” (Is 42.1-3),“Espinho na carne” (2Co 12.7).

Essas descrições ajudam o aflito a lidar com o mistério da depressão. Soam como alívio para um espírito abatido. São como luz em meio às densas trevas internas:

Mas para a terra que estava aflita não continuará a obscuridade (...) O povo que andava em trevas viu grande luz, e aos que viviam na região da sombra da morte, resplandeceu-lhes a luz. (Is 9.1-2)


4- Jesus e a depressão (Mt 26.36-46; Lc 22.39-46)


É um consolo indizível que o nosso Senhor Jesus conheça essa experiência, ensina Spurgeon.

Ao depressivo, apresente o Senhor Jesus como o homem de dores (Is 53.3). Eles vão se identificar mais com o Cordeiro mudo levado ao matadouro do que com o Leão da Tribo de Judá, embora ambos sejam o mesmo. Jesus, como o homem de dores, conhece todas as pisaduras da alma do aflito crente, pois já sentiu cada uma delas. O homem de dores não condena a dor, ele as trata.

O livro de Hebreus diz que Jesus é aquele que “foi tentado em todas as coisas, à nossa semelhança” e que “naquilo que ele mesmo sofreu, tendo sido tentado, é poderoso para socorrer os que são tentados” (Hb 4.15; 2.18). O alívio e socorro que o Senhor Jesus deseja oferecer inclui, além de nossas dores físicas, aquelas mentais também. O mentalmente abatido encontra refúgio no Homem de dores pois, em outrora, o Senhor já sofreu à nossa semelhança.

Seja você o ajudador ou o sofredor, antes de olhar para o Senhor na cruz do Calvário, olhe e sinta as dores do Senhor no Jardim do Getsêmani. Ali não houve falsas acusações de nenhum invejoso membro do Sinédrio, e no entanto, o homem de dores começou a entristecer-se e a angustiar-se muito. Nesse jardim não teve nenhum açoite, nenhuma coroa de espinho, nenhuma espada o transpassou, porém, o Senhor Jesus disse ali que a minha alma está cheia de tristeza até a morte. Essas declarações do Senhor lhe soam familiares? O aflito sofredor vai ver que se procuramos por alguém, qualquer que seja, para saber o que significa caminhar em nossos sapatos, Jesus emerge como a mais proeminente e verdadeira companhia para as nossas aflições.

Aqueles que olham as descrições do Senhor nesse Jardim, pode testificar que aqueles que sofrem de depressão têm um aliado, um herói, um companheiro-redentor e que advoga em prol do mentalmente abatido, pois ali, o Filho de Deus foi também o homem de dores internas, dores na alma, ali Ele foi posto em agonia. Num lindo jardim, ele experimentou as angústias da depressão. Coisa diferente é conversar com alguém que conhece de perto nossas dores, do que com quem tem peito de mármore!


Vontade de morrer x Suicídio


Repare que nos desabafos de Jó, Elias e Hemã há a menção de desejo pela morte. Lidando com sofredores depressivos, precisamos estar ciente desse desejo recorrente. O depressivo quer morrer, porque ele realmente quer o fim de sua dor. O fato é que a dor pode acabar de várias outras formas. O ajudador deve apresentar as outras alternativas, pois nove em cada dez casos de suicídio poderiam ser evitados.

O que esses três exemplos nos mostram é que as fragilizadas emoções internas podem (e devem) ser faladas a Deus. E Ele não se zanga. Ele escuta e trata. Sim, até mesmo a vontade de morrer ou a vontade de cometer suicídio devem ser desabafadas a Deus, como os humildes depressivos da Bíblia faziam.

Há outra coisa importante sobre esse tópico. O inimigo sabe desse desejo de morte do depressivo. Não é que o diabo seja o autor da depressão. Não podemos dar esse crédito a ele. O que ocorre pode se assemelhar na caça que os leões fazem. Diante de um grande rebanho, os leões vão observar e perseguir as presas mais fragilizadas. A depressão deixa o humilde servo do Senhor com a mente fragilizada. As setas do inimigo podem levá-lo ao convencimento de que a melhor alternativa é a morrer.

Tudo isso deve ser levado para oração. O clamor de um deprimido deve ser real. Ele deve descrever suas sensações internas por mais obscuras que forem. Ainda que ele pense que tem todos os motivos do mundo para acabar com sua própria vida. E ainda que o inimigo de nossas almas o instigue ao convencimento disso. O pobre depressivo deve ser ensinado a relatar isso a Deus: POSSO ATÉ TER TODOS OS BONS MOTIVOS PARA ACABAR COM MINHA VIDA, MAS EU COLOCO ESSA DECISÃO NAS MÃOS DO SENHOR.

Foi isso que os deprimidos da Bíblia fizeram. O desejo de morrer foi colocado nas mãos do Senhor. A decisão de continuar vivo ou não ficou para Deus. Que o Espírito ensine aos nossos pobres depressivos que estão nesse momento analisando o suicídio como opção a deixarem a decisão para Deus. Que os ajudadores mostrem esse Deus de Jó e de Elias aos pobres depressivos. Deixe Deus decidir por você!



Ajudando um sofredor depressivo


  • As semelhanças na Palavra
Depois de ver alguns casos de depressivos na Bíblia, é importante mostrar isso àqueles que o Senhor vai colocar em nosso caminho. Tendo o sofredor pedido por socorro, ofereça a ajuda na palavra de Deus que faltou nos amigos de Jó.

Seja um minerador a procura de pérolas nas páginas bíblicas. Mostre trechos onde outras pessoas passam por dores semelhantes. Além dos que mostramos aqui, temos as orações de Moisés, o manquejar de Jacó, os lamentos de Jeremias, Jonas na aboboreira… mostre que o deprimido não está só. E aponte para o agir de Deus em favor do abatido. A palavra é vida. Produz vida.

Incentive-o ler trechos em casa. Geralmente ele vai ler no mesmo ambiente que sofreu ou sofre as angústias internas. Aquele lugar de trevas vai se tornar lugar de luz, pois a luz da palavra vai começar a fazer efeito no interior do sofredor. No próximo encontro, escute como foi essa experiência e você ficará surpreso com o efeito restaurador da palavra.


  • Suplicando pelas promessas da Palavra
As promessas não são tão somente palavras escritas, é a Palavra de Deus. Acreditando nessas promessas, acreditamos no próprio Deus. Leve o deprimido a suplicar por essas promessas. Sua oração será uma reivindicação das promessas.

Ao se deparar, por exemplo, com esta passagem de Salmo 103.13: “Como um pai se compadece de seus filhos, assim o SENHOR se compadece dos que o temem”, tanto o ajudador, quanto o sofredor, irão suplicar pelo compadecimento do Senhor. A força dessa súplica será a menção do sentimento paterno que há em Deus. Sim, será a súplica ao Pai que se compadece. Aleluia!

Não esperamos que as promessas ajam como mágica no coração do deprimido. Mas, na maioria das vezes o deprimido irá se sentir amado por Deus. A imagem mental de um Deus decepcionado vai dando lugar a um Deus que continua amando.


  • Descrevendo os sentimentos internos

Ensine o depressivo a dizer para Deus como foi sua noite. Assim, como o bom esposa pergunta à sua amada se ela dormiu bem, Deus está interessado em saber como foi sua noite de sono. É claro que Ele sabe, mas Deus prefere ouvir isso de você.


  • Leitura interna

A depressão é como o período chuvoso do ano. Mesmo tendo a previsão de chuva, aquele dia poderá ter dias de sol. A depressão vai e volta em diferentes volumes. Ora é apenas uma garoa, ora é uma tempestade. O depressivo vai, aos poucos, aprendendo a fazer essa leitura de suas próprias emoções. Quando a tempestade vier, ele vai aprendendo a usar as ferramentas que o ajudador ofereceu.


Natureza

A beleza da criação mostra a beleza de seu Criador. O verde da natureza faz bem à mente depressiva.

Movimento

Todo movimento que um depressivo puder fazer fora das raízes de sua cama, são ótimas para alívio da mente: caminhada, pedalada, trilha, parques.

Escrita

A escrita poderá ajudar a mente aflita. O deprimido poderá começar a relatar suas sensações durante e após as sessões com o ajudador.

Conversa fora

O cristão depressivo deverá ser incentivado a ter momentos de conversas e bate-papo com amigos. Não vale rede social aqui. Frente a frente mesmo. Se for pastor depressivo, é importante que seja uma amizade até mesmo fora do círculo congregacional. São momentos de descontração sadia onde ele não se sinta pastor.

Hobby

Encoraje o depressivo a realizar um hobby que ele goste. As vezes, pode ser algo incomum, mas é importante que ele seja encorajado a realizar. Iniciar uma horta, curso de inglês, Mountain bike, motocross, pescaria, fotografia, música… a lista é vasta.

Falar

Se apenas for isso, já será uma ótima ajuda ao sofredor. Se ele falar, expor, desabafar para alguém que sinceramente está atento às suas lamúrias, seu coração se sentirá acolhido e o sentimento de solidão e isolamento diminuirá.

Terapia

Incentive o sofredor a procurar um psicólogo, preferencialmente, cristão. As vezes, e dependendo do grau da depressão, as sessões com o ajudador já mostrarão avanços no alívios do sofredor.

Medicação

Quando a ajuda não mostra resultados significativos, incentive o sofredor a buscar um profissional da medicina. Procure quebrar preconceitos com relação aos psiquiatras, remédios antidepressivos. Deus ainda será glorificado usando um médico ou uma medicação para alívio ou cura da depressão.

Que o Espírito Santo, o Consolador amado, possa levantar uma geração de AJUDADORES. Amém!


Bispo Erisvaldo Pinheiro Lima
Comunidade Evangélica Arca da Aliança
Seminário Aprofundar-se: Depressão e suicídio no meio cristão: doença física ou espiritual?

Bibliografia

A Bíblia Sagrada

A Depressão de Spurgeon: Esperança Realista em meio à Angústia Traduzido do original em inglês: Spurgeon’s Sorrows: Realistic Hope for those who Suffer from Depression ©2014 por Zack Eswine

Paul Hoff - O pastor como conselheiro. Ed Vida

Por dentro da depressão: conheça melhor essa síndrome - A.B.P. Disponível em: http://abp.org.br/portal/clippingsis/exibClipping/?clipping=17695

Setembro amarelo. Disponível em: http://www.setembroamarelo.org.br/


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